Um personagem do Novo Testamento, esposo de Safira e membro da igreja em Jerusalém. Ironicamente, o nome Ananias, significa “Deus tem sido gracioso”, mas Ananias descobriu que Deus além de ter a graça, também é santo. Safira quer dizer “bela”, mas o pecado acabou tornan- . do feio o seu coração. Segundo o livro de Atos, no início da igreja primitiva, a fim de po- . der cuidar dos necessitados, praticava-se uma cultura na qual “ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, m as tudo entre eles era comum” (At 4.32). Não havia nenhum necessitado entre eles. Os que eram possuidores de campos ou de casas- inclusive Barnabé em concordância com essa cultura cristã primitiva, vendiam suas propriedades e “lançavam o dinheiro aos pés dos apóstolos que distribuíam conforme as necessidades de cada um” (At 4.34-35).
Isso não era uma lei, e ninguém era obrigado a ser liberal e generoso dessa forma, mas isso foi uma cultura que os primeiros cristãos em Jerusalém adotaram para que a igreja . fosse também uma comunidade em que todos vivessem em comum. Ananias e Safira fizeram o mesmo, mas ao contrário dos outros, em um ato de pura cobiça retiveram parte do dinheiro, afirmando, no entanto, que tinham dado tudo. Pedro revelou que Ananias não havia mentido apenas para a igreja, mas principalmente ao Espírito Santo.
Na mesma hora, Ananias foi fulminado e morreu diante do apóstolo. Três horas depois, Safira veio em concordância com a mesma mentira (At 5.2) - sem saber sobre o que . havia acontecido com seu esposo - e ao repetir a mentira que eles haviam combinado, acabou recebendo a mesma sentença e sofrendo o mesmo juízo. Vale a pena lembrarmos que Pedro enfatizou que o que pertencia a eles, era deles (At 5.4). Eles não eram obrigados a dar nada. O pecado não consistia em reter uma parte (o que tinham plena liberdade de fazer e seria aceitável caso fizessem de forma honesta a respeito do assunto), mas em enganar a igreja quanto à motivação que tinham.
O problema . foi o engano e a hipocrisia e não a quantidade de dinheiro. Além de que, provavelmente havia também uma tentativa deles de serem vangloriados na igreja, assim como a atitude de Barnabé havia trazido reconhecimento. Ananias e Safira cobiçavam a aprovação que a igreja dedicava a aqueles que generosamente praticavam a fé do bem comum. Como disse George McDonald: “Metade da infelicidade do mundo decorre da tentativa de aparentar em lugar da tentativa de ser”. Jesus chamava isso de hipocrisia, que significa simplesmente “usar uma máscara” ou “desempenhar o papel de um ator”.
A hipocrisia é a dissimulação deliberada, a tentativa de fazer as pessoas acreditarem que somos mais espirituais do que na realidade, é o caso. Ananias e Safira haviam assumido esse papel. Segundo Frank Stagg, um pecado ainda mais grave podemos encontrar no verso 3, na tradução correta do texto. Uma sugestão de tradução para “mentir” ali é “falsificar”. É possível traduzir assim então: “Ananias, como é que você deixou Satanás entrar no seu coração para falsificar o Espírito Santo?”.
A acusação consistia então não só em ter mentido ao Espírito Santo, mas em ter falsificado o Espírito, buscando representar a sua fraudulenta ação como de certa forma inspirada pelo Espírito Santo. Assim procurava ele fazer com que o Espírito Santo participasse de seu abominável crime. Por certo, há quem fique estarrecido ao ler que Deus matou duas pessoas só porque mentiram sobre uma transação comercial e sobre sua oferta à igreja.
Mas quando consideramos os elementos relacionados a esse pecado, devemos concordar que Deus os julgou corretamente. Primeiro, porque esta foi a primeira vez que uma transgressão grave acontecia na igreja primitiva, então era necessária uma resposta radical contra o pecado para que a moral fosse restabelecida e houvesse temor. Convém observar que o Senhor sempre julgou o pecado com severidade no começo de um novo período na história da salvação do seu povo. Por exemplo: Logo assim que o tabernáculo foi erguido, Deus matou Nadabe e Abiú por tentarem apresentar “fogo estranho” ao Senhor (Lv 10); Assim que os hebreus conuistaram Canaã, Deus matou Acã por desobedecer às ordens que Deus havia dado para a conquista de Jerico (Js 7); E quando a igreja começou, Deus não poderia fazer diferente; Era preciso ser estabelecido o temor, e por causa da morte de Ananias e Safira “grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desse acontecimento (At 5.11).
Há alguns que supõe que Ananias e Safira não foram enviados à punição eterna, mas antes, foram levados desta vida para que não fossem condenados junto com os infiéis. A base para esta opinião é o ensino de Paulo em 1 Coríntios 11.29-32, que diz que aqueles que forem culpados de profanar o corpo do Senhor, seriam punidos com enfermidades ou até mesmo com a morte, para não serem condenados junto com o mundo (nesse sentido, os descrentes). No entanto, há pouca probabilidade desse texto ser aplicado ao contexto de Ananias e Safira, pois essa história não descreve um caso de “disciplina eclesiástica”, mas sim, um julgamento pessoal do próprio Deus.
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