AMÓS
(Heb. “carga ou carregador”). Único personagem com esse nome no Antigo Testamento, era fazendeiro e homem de negócios em Judá, chamado como leigo para pronunciar uma mensagem de condenação e juízo contra o reino do Norte, Israel. Ele nada cita sobre sua família ou linhagem, mas proporciona informações numa quantidade acima do comum sobre sua época de modo geral e sobre seu contexto geográfico, cronológico e cultural em particular.
Amós era natural de Tecoa, uma pequena vila 10 quilômetros ao sul de Belém, de onde era também a mulher sábia que Joabe procurou para aconselhar Davi a respeito de Absalão (2Sm 14.1-20). Sua ocupação, segundo suas próprias palavras, era a de pastor de ovelhas, mas a palavra usada aqui (noqed) sugere algo mais do que simplesmente alguém que cuida de rebanhos. A outra ocorrência da mesma palavra no Antigo Testamento (2 Rs 3.4), é usada para descrever Mesa, rei dos moabitas, que claramente não era pastor. E mais provável que Amós fosse um mercador de ovelhas ou algo semelhante, e é assim que a sua ocupação deve ser entendida. Essa idéia tem apoio em Amós 7.14, onde ele se refere a si mesmo como um boqer, outro termo raro para “pastor”. Apesar de boqer sem dúvida relacionar-se de alguma maneira ao termo baqar, um vocábulo comum para “(gado) rebanho”, Amós 7.15 conecta o trabalho do profeta com o rebanho, não com o gado. Assim, era um homem envolvido com ovelhas, mas não necessariamente um pastor.
O profeta também descreve a si mesmo como “cultivador de sicômoros” (Am 7.14). O termo hebraico aqui para a frase inteira é boles, uma palavra que, na base dos textos da Septuaginta e do grego clássico, provavelmente se refere a cortar e amassar o fruto, a fim de torná-lo comestível. De qualquer maneira, parece que Amós era especialista no cultivo de figos, bem como um comerciante de ovelhas bem-sucedido. A importância disso está no fato de que Deus chamou um homem ocupado e próspero, e separou-o de seus interesses seculares, para realizar uma missão entre os israelitas, o rebanho de Deus, errante e pecaminoso.
Fica claro que o ministério de Amós foi breve — talvez apenas uma missão, por alguns dias — devido à sua declaração de abertura, de acordo com a qual sua comissão veio nos dias do rei Uzias, de Judá (790-739 a.C.), e do rei Jeroboão, de Israel (793-753 a C.); mais especificamente, “dois anos antes do terremoto” (Am 1.1). Essa catástrofe, tão grande que ainda foi lembrada 240 anos mais tarde pelo profeta Zacarias (Zc 14.5), ocorreu por volta de 760 a.C. Portanto, 762 a.C. seria a data precisa do ministério de Amós contra os santuários ilícitos de Jeroboão (Am 7.10-13).
O único local citado em suas mensagens é Betei, um dos principais lugares de adoração estabelecidos por Jeroboão I, logo depois da divisão do reino em 931 a.C. (1Rs 12.29-33). Esse ato ímpio de criar locais ilegítimos para adoração, a fim de competir com o único autorizado pelo Senhor (isto é, em Jerusalém), resultou numa profecia de que o altar de Betei seria finalmente destruído e seus sacerdotes, mortos (1Rs 13.1-3). Isso aconteceu como parte das reformas realizadas pelo rei Josias, 300 anos mais tarde (2 Rs 23.15,16), e o próprio Amós ajudou a preparar o caminho para que o culto de Betei fosse denunciado (Am 3.14; 5.5). Foi sua firme mensagem que ocasionou sua expulsão de Betei, por Jeroboão II e seu sacerdote Amazias, sob as acusações caluniosas de que Amós visava apenas a ganho financeiro (Am 7.12).
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