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O QUE ERA O GNOSTICISMO?

 

O nome que se dá a um amplo movimento religioso, basicamente dualista e sincretista, que se espalhou por todo o antigo Oriente Próximo imediatamen- te antes e após a época de Cristo; e os sistemas religiosos exemplificados pelo “Grande Gnóstico”, que floresceram entre os séculos II e IV d.C. O gnósticismo é usado aqui neste segundo sentido.

Origens. Embora muitos tenham tentado atribuir ao gnósticismo origens persas, gregas ou egípcias, atualmente aceita-se que o movimento surgiu em um ambiente judaico- eristão. Isto não nega a presença de prováveis elementos pré-cristãos no gnósticismo. No entanto, a síntese peculiar de idéias que deram origem ao “Grande Gnóstico” parece ter ocorrido no final do século I ou no início do século II d.C. É evidente que o movimento teve início em um ambiente hebraico-cris- tâo, provavelmente na Síria-Palestina, por causa do grande número de nomes, expressões e idéias semitas que aparecem nos primeiros trabalhos gnósticos, tais como o Apócrifo de João, o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Filipe; e a presença de idéias cristãs distintas, tais como os sacramentos, Cristo o Redentor, e o apelo às Escrituras do Novo Testamento.

Crenças e práticas. A mais proeminente das seitas do “Grande Gnóstico” ensinava um sistema de doutrinas que incluía (de formas diversas) as seguintes idéias básicas: (1) uma divindade transcendente indescritível, que é puramente espírito; (2) um dualismo básico entre o espírito e a matéria, que necessitava do Pleroma (a cadeia de coisas emanadas que conectam o Grande Deus à matéria), que seria responsável pela origem do universo; (3) uma divisão no Pleroma que resultou na criação das coisas materiais e do homem por um Demiurgo, o Deus do Antigo Testamento; (4) uma faísca de Deus implantada no homem em sua criação; (5) a redenção e a libertação dessa faísca divina por meio do esclarecimento, resultando na autoconsciência (algumas vezes chamada de “despertar do sono” ou “sair da embriaguez”); (6) um Cristo que redime por ser o Revelador ou o Iluminador (Esclarecedor), e não o Salvador-sofredor; e (7) a salvação por meio do conhecimento, basicamente pelo autoconhecimento.

Pouco se sabe sobre os rituais ou práticas sectárias dos gnósticos. O Evangelho de Filipe parece indicar que seus leitores praticavam cinco sacramentos: o batismo, a confirmação, a santa ceia, a crisma (unção com azeite de oliva) e a câmara nupcial. Todos esses, exceto o último, são encontrados no cristianismo ortodoxo. As práticas dos gnósticos iam desde o ascetismo extremo até a libertinagem extrema, ambos os extremos baseados na crença de que o corpo é essencialmente mau.

Seitas. Os principais grupos gnósticos eram os valentianianos (fundados por Valentino em Roma, em aprox. 140 d.C.); os setianos (adoradores de Sete); os ofitas ou naasenos (que eram adoradores da serpente); os barbelo-gnósticos (que enfatizavam o papel de Barbelo - ou a menos expressiva Sofia no valentianismo) e os marcionistas (seguidores de Marcião, aprox. 145 d.C.). Os grupos menores incluem os simonianos (supostamente seguidores de Simão de Samaria, Act 8), os carpocracianos, os paulicianos, os fe- bionitas e os peratitas. Estes últimos não estão bem representados na literatura gnóstica existente.

Outros grupos fortemente relacionados com os gnósticos incluíam os ceríntianos e os encratitas do século II d.C., os herméticos e os docetistas. Pode-se provavelmente atribuir uma descendência linear do movimento gnóstico aos mandeanos, um grupo que ainda sobrevive no Iraque. Seja por meio dos mandeanos, seja diretamente, os maniquefs- tas (que surgiram entre os séculos III e V d.C.) adotaram algumas doutrinas gnósticas. Os maniqueístas deixaram manifestações medievais nos cátaros (albigenses) e nos bogomilos. Literatura. Antes de 1955, os gnósticos eram conhecidos principalmente por meio (1) de descrições de suas crenças e práticas nos trabalhos dos patriarcas da Igreja, principalmente Irineu, Hipólito e Epifânio, e (2) da literatura gnóstica que existe no Códice Bruciano (dois Livros de Jeú e um trabalho sem título) e no Códice Askewiano (Pistis Sophia). Naquele ano, a publicação do Códice Berolinense 8502 tornou acessível o Evangelho de Maria, o Apócrifo de João e a Sabedoria de Jesus Cristo.

Paralelamente, os textos gnósticos de Nag Hammadi haviam sido descobertos em 1945, e com sua publicação (iniciada em 1956) uma abundância de documentos gnósticos propiciou aos estudiosos acesso em primeira mão à doutrina gnóstica e à sua seita (Veja Chenoboskion). Hoje em dia, documentos como o Evangelho da Verdade, a Epístola de Regino, a Epístola de Tiago, o Apócrifo de João, o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Filipe e a Hipóstase de Archom podem ser encontrados em inglês. Foram publicados resumos de diversos outros tratados, e existe um projeto de tradução, para o inglês, de todos os 51 textos. Veja Agrapha - palavras de Jesus não registradas nos textos dos Evangelhos canônicos.

Relacionamento com a Bíblia. A literatura gnóstica demonstra a existência, no século II, de um cânone do Novo Testamento quase idêntico aos cânones formais adotados pelos Concílios de Laodicéia, Cartago e Hipo. Também destaca variações textuais e a história da transmissão textual. A maior importância dessa literatura provavelmente esteja no campo da interpretação do Novo Testamento.

Alguns estudiosos tentaram mostrar que determinados livros do Novo Testamento se devem ao gnósticismo (O Evangelho de João) ou são reações a este (Colossenses, Lucas e Atos, Coríntios, Efésios, Epístolas Pastorais (q.v.), Epístolas de João). No entanto, alguns desses estudiosos parecem estar usando a palavra “gnósticismo” em seu sentido amplo, e não como uma referência às diferenças centrais e não-bíblicas das grandes seitas gnósticas.


Dicionário Wycliffe

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