O Jardim do Éden ou Paraíso tem sido considerado por muitos um mito.
Por alguns um ideal. E ainda por outros uma figura de linguagem de uma
vida de deleite. Também tem sido alvo de muitos estudos teológicos, pois
ali está a gênese da humanidade, o nicho do egoísmo, da rebelião e do
pecado. Mas, acima de tudo, ali houve a promessa de um Redentor que não
apenas restauraria o caminho, mas seria o próprio caminho, a verdade que
liberta e a vida tão almejada (Jo 14.6).
Logo no início do relato
bíblico encontramos detalhadamente informações sobre o Jardim do Éden. A
Palavra de Deus nos diz: “E saía um rio do Éden para regar o jardim; e
dali se dividia e se tornava em quatro braços. O nome do primeiro é
Pisom; este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. E o
ouro dessa terra é bom; ali há obdélio, e a pedra sardônica. E o nome do
segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cuxe. E o nome
do terceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da
Assíria; e o quarto rio é o Eufrates (Gn 2.10-14; grifo do autor).
A
Palavra de Deus tem-se mostrado verdadeira em todos os níveis, seja no
âmbito arqueológico, antropológico ou histórico. Ainda assim, alguns têm
perguntado sobre a existência dos primeiros dois rios e sua união
fluvial com os outros dois. Pois temos a comprovação da existência dos
dois: Tigre e Eufrates, enquanto Pison e Giom não foram encontrados.
Podemos ter alguma idéia sobre esses rios pelos nomes que lhes são
aplicados. O rio Tigre, provavelmente, tinha outro nome (Hidequel) ou
ele era chamado por esse nome somente pelos hebreus. Entre o rio Tigre e
o rio Eufrates ficava a região conhecida como Mesopotâmia, palavra que
significa “entre rios”.
A Bíblia diz que do Éden saía um rio que
se dividia em quatro cabeceiras. Isso demonstra que o Jardim deveria
compor uma extensão considerável, talvez abrangendo dezenas de
quilômetros, não era apenas um “quintal”. Dentro desse hábitat, Adão
pôde desempenhar sua primeira missão, dar nomes a todos os animais (Gn
2.19). Esse lugar de deleite (Éden) não excluía o trabalho, antes, o
trabalho era edificante e trazia seus frutos. É interessante notar que
alguns estudiosos têm afirmado que a palavra “éden” teria sua origem do
acádico edinu, que significa “campo aberto”. Contudo, o consenso geral é
de que a palavra tem sua origem no hebraico eden, isto é “deleite”. Se
onde há fumaça pode haver uma clareira, então talvez o reflexo acadiano
compartilha a idéia de um lugar amplo e de verdadeiro deleite.
O
catedrático Antonio Neves de Mesquita, em sua obra “Povos e Nações do
Mundo Antigo”, descreve a possível localização do Éden confirmando a
etimologia de seu nome: “A região norte da Mesopotâmia é realmente
interessante, tanto na flora, como na fauna e no clima. Em volta da
montanha onde o Eufrates tem a sua nascente, há um verdadeiro jardim. Os
vales são ricos e produzem abundantemente uvas, tâmaras, morangos,
pêras, figos e uma infinita variedade de outras frutas. As flores são
lindas e de aroma particularmente inebriante. A parte oriental do lago
Van é composta de pomares verdejantes e jardins, onde, ao lado da
riqueza e abundância, a variedade de plantas odoríferas é de tal modo
abundante, que embalsama o ar.
O clima da região é um misto de tropical e
temperado; o céu é sempre límpido e a brisa, refrescante; nos períodos
de calor, torna-se encantadora a região. Se o jardim era como diz a
narrativa bíblica, um encanto para o homem, e nós aceitamos o fato sem
qualquer dúvida, e se houver um recanto na face da terra onde se possam
encontrar vestígios desse encanto, só temos de aceitar a região da alta
Mesopotâmia”.
Rio – Características
Tigre/ Hidequel
Ao leste do contemporâneo Iraque; extensão de 1 900 quilômetros e largura não superior a duzentos metros.
Eufrates
Sua extensão alcança 2 760 quilômetros.
Sua extensão alcança 2 760 quilômetros.
Pison
Leito desconhecido
Leito desconhecido
Giom
Leito desconhecido
Leito desconhecido
A
questão levantada aqui diz respeito aos dois rios “perdidos”. Alguns
estudiosos procuram aplicar o nome desses dois rios aos distantes Nilo e
Indo. Contudo, somente com muito esforço poderíamos aceitar tais
hipóteses.
Devemos procurar esclarecimentos no próprio livro de
Gênesis. Uma leitura mais precisa do texto nos traz alguns
esclarecimentos. Estamos acostumados a nos referir ao Dilúvio como
“chuva intensa durante quarenta dias e quarenta noites” (Gn 7.12). E
isso é verdade! Mas, além disso, lemos nas Escrituras: “No ano
seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês,
naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as
janelas dos céus se abriram, e houve chuva sobre a terra quarenta dias e
quarenta noites” (Gn 7.11,12; grifo do autor).
Notemos que houve
uma mudança continental. Romperam todas as fontes do grande abismo. Ou
romperam todas as fontes do grande oceano. Maremotos, terremotos… Um
verdadeiro cataclismo sobreveio à terra. Toda essa fúria provavelmente
cooperou para que houvesse o soterramento de rios e a abertura de
outros. Evidentemente, o autor, inspirado, tinha a compreensão da
diferença topográfica de seus dias ao fazer sua declaração. Entretanto,
ainda assim foi fiel à revelação do Espírito de Deus.
Podemos
concluir que as seguintes mudanças ocorreram da seguinte forma:
Primeiro, o rio principal que alimentava as cabeceiras foi provavelmente
dividido em duas cabeceiras independentes. Segundo, provavelmente Pison
e Giom tiveram as seguintes interferências: 1. Foram soterrados. 2.
Tiveram seu curso fluvial reduzido e perderam seu leito original. 3. A
arqueologia poderá ainda trazer mais luz ao assunto, corroborando com a
primeira idéia.
Talvez poderíamos mencionar o apóstolo Paulo, que
diz: “Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o
espiritual” (1Co 15.46). Deus, em sua soberania e providência, não
permitiu que o homem tivesse absoluta certeza da localização específica
do Jardim, devido às tendências supersticiosas e idólatras.
Fazendo
isso, enfoca agora o espiritual. Cristo, o segundo Adão, vivificado no
espírito (1Pe 3.18), chama toda a humanidade, por meio do evangelho, ao
Caminho que um dia Adão e Eva abandonaram pela desobediência; à Verdade
que um dia trocaram pela mentira; e à Vida em comunhão que perderam.
Talvez nunca saberemos o lugar exato do Jardim do Éden, contudo, já
temos em Cristo o deleite da paz com Deus (Rm 5.1).
Fonte: http://www.cacp.org.br
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